![]() VIDA E MORTE SEVERINA
(Uma declamaçao performática para apresentação teatralizada, partindo do texto: Vida e morte severina e fechando com violão na música: Funeral dum lavrador.)
O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria.
Mas como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias:
Mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: morremos de morte igual, mesma morte severina:
Que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia
João Cabral
------------------------ Somos todos severinos Diferentes na ousadia Mas iguais na agonia Um Severino chora o drama Pelo qual outro sorria
Severinos são jogados nas Fogueiras das selvagerias Somos todos transitórios Severino das Marias e Cairemos nas mesmas covas Dos finados Zacarias
Ton Poesia --------------------------
FUNERAL DUM LAVRADOR
Esta cova em que estás, com palmos medida É a conta menor que tiraste em vida É de bom tamanho, nem largo nem fundo É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida É a terra que querias ver dividida É uma cova grande pra teu pouco defunto Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco Porém mais que no mundo te sentirás largo É uma cova grande pra tua carne pouca Mas à terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida É a parte que te cabe deste latifúndio É a terra que querias ver dividida Estarás mais ancho que estavas no mundo
Chico Buarque ---------------------
Ton Poesia Enviado por Ton Poesia em 27/05/2025 Reeditado em 29/05/2025 Código do texto: T8342924 Classificação de conteúdo: seguro João Cabral de Melo Neto
Enviado por Ton Poesia em 27/06/2025
Alterado em 27/06/2025 Comentários
|